... Como o homem que passou a vida a olhar o mar e na última noite de lua, ao ver a onda se desfazer em espuma, jurou ao vento que aquela onda transescorrida sempre o vinha visitar.
O vento, sempre atento
rebateu o argumento:
'como pode você saber que a onda era sempre a mesma? Que as mesmas gotas de água, os mesmos grãos de areia e sal se uniram e tentaram fugir daquele monte de mar?'
E o homem respondeu tão sereno quanto o canto das sereias, que o sonho e a vontade têm essa capacidade de unir aqueles que sabem enxergar o brilho da felicidade.
O vento, naquele momento
ainda confuso viu nascer seu primeiro sofrimento
Queria ele ser ele mesmo outra vez
para poder voltar à praia
e ver crescer aquela mesma onda,
vê-la correr para fugir do mar,
se atirar à praia,
se agarrar à areia,
e logo depois voltar a ser mar.
E se assim fosse
o vento, tão violento
viraria brisa.
Aquela brisa de mar que por anos sussurrou seus sonhos no ouvido do homem.
Um conto com fragmentos de poesia.
Será que alguém algum dia já pensou nas ondas como tentando fugir do mar?